ArtigosTodas as Notícias

As Entrevistas Presidenciáveis no JN e a Democracia

anuncio17 UNIFSA

[ad#336×280]Primeiro quero alertar ao leitor deste artigo que, na minha compreensão, no momento de uma entrevista o personagem principal deve ser o entrevistado e não o entrevistador, mas no caso do Jornal Nacional, da Rede Globo, houve uma inversão dos papéis. As entrevistas tiveram um ator principal, William Bonner; uma coadjuvante, Patrícia Poeta; e um figurante, o presidenciável entrevistado. Isso para não falar que os demais candidatos tiveram seus momentos no horário nobre totalmente secundarizados. Infelizmente, o que deveria ser uma colaboração à democracia se transformou numa demonstração de poder de um canal de televisão.

Quanto ao tom das entrevistas, foi possível perceber que elas ocorreram de forma agressiva, mais agressiva que nos debates entre candidatos, quando ali estão os adversários em disputa, sendo perfeitamente razoável que do pescoço para baixo seja canela e as perguntas sejam colocadas para clarear as divergências entre os próprios candidatos. Justificaria, nesse caso, alguma agressividade, mas a dupla do JN vai além desse ponto, chegando a entrevista a assemelhar-se a um interrogatório, uma inquirição. Vou além ao dizer que houve uma tentativa de enquadrar, ridicularizar ou humilhar os entrevistados, nas suas pessoas físicas e não em suas ideias, isso porque, indevidamente, quem buscou o protagonismo a qualquer preço foi a dupla que entrevista e não o entrevistado, pior ainda, as propostas de governo dos candidatos não conseguiram florescer nesse ambiente.

William Bonner e Patrícia Poeta adotaram a única técnica possível em situações como esta –o confronto
William Bonner e Patrícia Poeta adotaram a única técnica possível em situações como esta –o confronto

Tudo isso obedece a uma estratégia da mídia, também chamada de quarto poder, acima e independente dos poderes legislativo, executivo e judiciário, pois essa mídia trabalha para criar referências psicossociais, ou seja, formar a opinião ou formar o sonho das pessoas não deve mais ser um papel de homens ou mulheres, mas da imprensa. A sociedade não pode mais ter como referência seres humanos como Moisés ou Jesus Cristo, grandes líderes como Martin Luther King, Nelson Mandela, Gandhi ou mesmo Collor, Lula, Aécio, Eduardo Campos. A estratégia do PIG – Partido da Imprensa Golpista é que a referência da sociedade seja formada pela grande mídia, através dos telejornais, telenovelas ou televisão, seu principal meio. Para isso, atuam nas duas direções, formar a opinião pública subliminarmente e deformar a opinião sobre os líderes ou políticos.

E essa deformação não ocorre só agora nas entrevistas dos presidenciáveis, mas no dia a dia, quando “batem” nos senadores, deputados, vereadores, presidentes, governadores e prefeitos. Não estou querendo dizer que os políticos todos são anjos que caíram do céu, mas não posso aceitar que a imprensa queira consolidar tão livremente a ideia de que ela própria seja a guardiã da verdade e da democracia, que a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão sejam princípios intocáveis, assim como eles definem e defendem.

Preciso mostrar o outro lado da lua, já que da terra sempre vemos o mesmo lado, isto é, o outro lado da liberdade de imprensa é a liberdade da empresa de comunicação e o outro lado da liberdade de expressão é a liberdade de opressão. Vejamos que, por trás da informação existe uma empresa que precisa arrecadar, que tem lucro e muitos interesses estão em jogo. Não é à toa que a família Marinho é a mais rica do Brasil. Será que construíram esse patrimônio propagando ou vendendo a verdade? Defendendo a Democracia mesmo nos tempos de ditadura? É claro, são dezenas de bilhões de interesses e por isso não podemos considerar que exista isenção, imparcialidade em qualquer coisa que digam ou mostrem na televisão.

Quanto à liberdade de expressão, falei que o outro lado é a liberdade de opressão. Infelizmente a verdade é que políticos em geral, do executivo ao legislativo, estão acovardados e oprimidos diante de tanto poder. Afinal não existe, nos dias atuais, liderança sem inserção na mídia e poucos líderes resistem ao ataque sistemático da mesma. Não é raro ouvir de prefeitos, em especial de pequenas cidades, se dizerem coagidos a contratarem um portal. A opressão é tanta que políticos de alta patente como os presidenciáveis, no primeiro debate televisivo de 2014, se apressaram em responder que não querem a regulação da mídia. Entenda que regulação quer dizer democratização da mídia e não o seu controle. Mas nenhum teve coragem nem de questionar ao jornalista que fez a pergunta sobre o uso indevido do termo regulação.

Finalizo chamando atenção para o fato de que essa desproporcionalidade de força do quarto poder, da mesma forma que já é perceptível quanto ao poder financeiro, não é saudável para a democracia, na verdade o desequilíbrio de forças é uma ameaça à democracia.

PS: esse texto foi também encaminhado para a Rede Globo, com cópia para William Bonner e Patrícia Poeta.

AUTOR:JESUS RODRIGUES – Deputado Federal

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Você está usando um bloqueador de anúncios.