Por Maria Moura e Romário Mendes
Da Redação
As perdas provocadas pela estiagem na região de Picos ultrapassam as fronteiras do campo e já podem ser sentidas também pelos habitantes dos centros urbanos. O preço de cereais como feijão e milho sofreu alta elevada nos últimos meses, reflexo que atinge diretamente o bolso dos consumires.
O dinheiro que aquece a economia do município modelo é originado em grande parte das negociações entre agricultores, produtores rurais e comerciantes de municípios vizinhos. Com as perdas da última safra, a economia da região vem desacelerando.
“Picos é uma cidade que tudo gira em torno da agricultura, e a falta de chuvas tem afetado diretamente os comércios, porque as pessoas priorizam a alimentação enquanto o comércio de luxo e de bens secundários fica em segundo plano”, diz Benó Santos, gerente de uma loja do ramo dos calçados. Para ele, ainda é cedo para se falar em demissões, mas “com o fluxo de vendas diminuindo os investimentos no mercado também caem”.
Comerciantes de cereais afirmam que a inflação dos grãos é ainda maior em razão da escassez de plantios em áreas próximas ao município de Picos. Os alimentos são comprados em cidades mais distantes – outras regiões do estado – encarecendo os produtos. “A gente compra caro e acaba tendo que vender caro”, diz Eduardo Filho, adiantando que o feijão vendido em Picos está vindo principalmente da Bahia e de cidades da região Sul do Piauí.
De acordo com Eduardo, o valor do feijão dobrou e é possível que nos próximos meses o valor continue crescendo. Os mais prevenidos já estão fazendo o chamado “pé-de-meia” e comprando grandes quantidades de alimentos como milho, feijão e ração para os animais.
Dono de um ponto tradicional no Mercado Público de Picos, Valdemar Francisco Rodrigues lembra que o prejuízo de um inverno ruim no semiárido nordestino não prejudica apenas aqueles que vivem na zona rural. “A perda não é apenas do homem da roça, ela se divide com as pessoas da cidade”, enfatiza.
Para o homem do campo as preocupações são maiores: a maior fonte de renda continua sendo a terra. “As pessoas que plantaram perderam praticamente tudo”, conta o agricultor Agostinho Expedito de Sousa. “O milho chegou a soltar o pendão e o feijão começou a aflorar, mas a chuva não veio”, lamenta.
Morador da zona rural do Geminiano, o agricultor explica que os criadores de animais da região estão vendendo seus rebanhos em razão da falta de pasto. “Na ração não há condições de sustentar”, finaliza.