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O futebol do Piauí e o futebol do interior da Espanha

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Estádio La Rosaleda, em Málaga, Sul da Espanha
Estádio Rosaleda em Málaga

Teresina, capital do Piauí, tem, aproximadamente 1.000.000 de habitantes. Málaga, capital da Província de Málaga, região da Andaluzia, no Sul da Espanha, tem, aproximadamente 700.000 habitantes. Ou seja: a capital do Piauí é maior em tamanho e em número de habitantes do que a capital de Málaga.

Mas a comparação aqui é outra, que reverte a superioridade populacional de Teresina para anos luz ou números-luz (inventando esse termo!) de distância quando se trata de futebol.

Vamos aos fatos: domingo, 29 de abril de 2012, estádio La Rosaleda, sede do Málaga Club de Futbal (único grande time da cidade de Málaga, aquela que tem muito menos gente que Teresina). Pardida entre o time da casa e o Valencia. Terça, 1o de maio, estádio Lindolfo Monteiro, em Teresina, clássico estadual piauiense entre Flamengo do Piauí e River.

O que essas duas datas e lugares tem a haver? Justamente algo que há muito tempo vem sendo discutido no futebol do Piauí: a falência desse esporte profissional piauiense, mesmo esse sendo a modalidade esportiva mais popular do país e o brasileiro ser considerado o ser mais alegre e festivo do Mundo (posso dizer que isso é verdade!).

Mais abissal ainda é quando vemos que enquanto no maior clássico do futebol piauiense, considerado lotado, deram parcos 3.647 torcedores (sendo que quase 1.000 – 992 para ser exato – não pagaram) com renda de R$ 33.995,00. O jogo em questão do Málaga era com um time grande, mas um time do interior da Espanha, o Valencia. Sabem quanto era o ingresso mais barato? € 35 (que em câmbio do dia 02 de maio de 2012 dá R$ 87,81). Sabe quantas pessoas tinham nesse jogo? No mínimo 25.000 pessoas (em um estádio que comporta 29.000). Estava praticamente lotado.  Se multiplicarmos o valor básico do ingresso por 25.000 pessoas teríamos uma renda de R$ 2.175.000 (descontado os valores “de graça”, mas lembrando que tinha ingresso sendo vendido a €200 (o que dá mais ou menos R$ 500). Quase 64 vezes mais. Ou seja: um único jogo em uma cidade do interior da Espanha teve a renda de um campeonato piauiense todinho (arriscaria dizer que dois!).

Claro que vão aparecer muitos dizendo que não se pode comparar o futebol atual campeão do Mundo, que o Málaga é time de primeira divisão, está em alta e que os times do Piauí são de quarta divisão, etc e tal.

Negativo: senhoras e senhores! É comparável sim, porque temos mais amor pelo futebol (apesar de achar muitas vezes esse amor alienante), temos mais público, nossos ingressos são infinitamente inferiores em termos de preço (na Europa se tem conforto, respeita-se as cadeiras marcadas, mas não vi lá essas coisas para se cobrar muito mais caro que ingresso no Brasil).

Quando falo de futebol piauiense costumo citar o jornalista Mauro Sampaio (hoje radicado em Brasília, mas que tem forte sintonia com o Piauí, inclusive em sempre defender seu amor por seu único time: o River).

Sem hipocrisia: além de torcer por times do Piauí, tenho meu time de coração nacional (onde tenho também sérias críticas sobre como eles fazem seu marketing esportivo), mas sempre que posso vou a um estádio no Piauí e quase sempre lamento ter de dizer que vejo mais pessoas no campo (entre atletas, comissões técnicas, funcionários, policiais e seguranças e imprensa) do que expectadores.

Dizer que tenho a solução para melhorar: essa mágica eu não tenho. Certeza mesmo é que o atual modelo está falido e tem de ser mudado.

Uma luz no fim do túnel sobre o futebol piauiense é o esforço heroico de muitos torcedores que tentam mobilizar o Campeonato em redes sociais e então a profissionalização comunicacional das equipes (que não é uma novidade, mas que os esforços antigos foram por água abaixo).

Um dia ainda espero ver um estádio lotado no Piauí, principalmente porque o futebol é alegria e gera uma série de diversões e, ao contrário de muitos lugares do País: no Piauí ver uma partida de futebol ainda é um programa sadio, onde raramente se vê confusão, mortes e outras idiotices que comumente vemos nos outros “grandes” e “evoluídos” centros do País.

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