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Os desafios e medos do padre que assumirá a prefeitura da maior cidade do Sertão do PI

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Tido como desconfiado, fechado e até um pouco avesso à imprensa, o sacerdote católico de maior evidência atualmente no mundo político do Piauí recebeu O Olho de portas abertas em entrevista exclusiva. Às vésperas de se tornar o primeiro petista a governar a terceira maior cidade do Piauí, Picos (localizada a 311 quilômetros de Teresina e a capital do Sertão piauiense) o padre José Walmir de Lima, 44 anos, tem um abacaxi pela frente. Enquanto tentava provar que vai descasca-lo e fazer um suco doce falou de desafios, mudanças, medos, particularidades e de como pretende mudar a administração do prefeito Kléber Eulálio

O Padre Walmir, como é mais conhecido, será o primeiro prefeito do PT da chamada Cidade Modelo e o sacerdote católico a assumir o comando político do maior número de pessoas este século no Piauí. Herda o cargo após a eleição do titular, Kléber Eulálio (PMDB), ser eleito pelos deputados estaduais para cargo vitalício no Tribunal de Contas do Estado. Eulálio deixará o cargo e a imagem de um prefeito ausente, com uma administração que não decolou.

Padre Walmir Lima-Foto: Orlando Berti
Padre Walmir Lima-Foto: Orlando Berti

De seu gabinete, de cinco por cinco metros, mais perecendo um cubículo, com amontoado de papéis, uma figura evidente de Jesus Cristo, três potes de biscoitos e uma garrafa de café, uma mesa simples, duas cadeiras, lembrando muito mais uma repartição pública do século passado, o padre respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas.

O Padre Walmir é um novato na política partidária. Até 2012 nunca tinha disputado nenhum cargo eletivo. Um ano antes, após ser cortejado por vários partidos, muitos políticos e quase sofrer punições da igreja católica local por conta do seu interesse em disputar um cargo-eletivo terminou se filiado ao PT. Era a cara do movimento Muda Picos.

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Padre tem pouco menos de três anos de carreira político-partidária na cidade

Um ano antes tinha ganho notoriedade estadual por liderar várias manifestações populares nas periferias da cidade, lugar, por sinal, que passou metade de sua vida sacerdotal, sendo pároco em igrejas dos bairros mais pobres. É dessa mesma periferia que tem um grande desafio de mudanças: promover políticas públicas que tirem Picos como uma das cidades do estado com mais problemas sociais.

Perguntado se como gosta de ser chamado, se de padre, vice-prefeito ou secretário ele, muito simpático, disse que da forma como a pessoa o queira chamar.

Com uma paciência de Jó e uma simpatia de miss, confessou ser leitor de livros de auto-ajuda, tendo Augusto Cury como um dos autores preferidos. As leituras são divididas com as da área de Direito. Em breve ele concluirá o curso na Faculdade R.Sá. É um dos alunos mais participativos e assíduos.

O padre quase-prefeito disse que gosta de lidar com pessoas. Uma das obras que o inspira é “O Monge e o Executivo”, de James C. Hunter. Diz que vê pouca televisão e que tem se dedicado a acompanhar telenoticiários.

Confira os principais pontos da conversa com o Padre Walmir:

DESAFIOS, NOVAS PROPOSTAS E MUDANÇAS

A entrevista começa com indagações sobre os desafios e propostas de mudança para a cidade, principalmente porque ele assumirá o comando de uma administração com índices de rejeição altíssimo. Analistas políticos da cidade, dizem que este mês, ao assumir a prefeitura, o padre pega, literalmente, “um abacaxi”.

Se ele pegará um desses terminou deixando claro que sim, mas que também sabe como descasca-lo e ainda fazer uma salada de frutas ou um suco. Admite pegar uma administração andando e com menos da metade do tempo de mandato. “Podemos dizer que estamos consertando um carro com ele andando. Estamos com esse mesmo sentimento. Temos muitas perspectivas, muitos sonhos a realizar, porém com pés no chão”, disse, em tom de prudência.

“A gente não pode deixar que nosso anseio de mudança, que continua forte, deixe a gente viajar e ao mesmo tempo decepcionar. Vamos pensar em uma mudança sabendo que estamos dentro da administração”, relativizou.

Ao ser indagado se haverá mudanças o padre não fugiu à raia. Ele disse que só no fato de mudar um gestor já começa a haver alguma movimentação de transformação, principalmente porque cada um tem um jeito próprio de trabalhar. “Eu tenho uma maneira de abordar as pessoas, de receber as pessoas, de ver Picos. Isso já é diferente por si só”.

Complementa: “estou aqui porque as pessoas têm liberdade de se expressar diferente comigo, pelo fato de até mesmo de se sentir mais próximo. Não tem como qualquer pessoa, pela convivência de estar nas ruas, de andar na cidade, de falar com as pessoas e também de ser estudante e também tem como as pessoas estarem mais próximas da gente. Acho isso muito bom”, refletiu.

E as mudanças? “Acredito que vai mudar. Mas peço a compreensão das pessoas sobre o fato de que as mudanças ocorrerão com o tempo e as condições. É um desafio. Há muitas coisas, por exemplo, que só podem ser resolvidas em seis anos”.

Perguntado qual será a mudança número um o Padre Walmir respondeu que é colocar em curso as obras paradas na cidade. Sendo as principais: o mercado público, as alças laterais da BR-316, o anel viário da cidade, a avenida Beira Rio, a estrada Torrões – Tabatinga e a estrada da Chapada do Mocambo. “Não estou dizendo que todas serão feitas de uma vez, mas peguei a lista das principais, colocarei em uma lista e levarei para o governador”, prometeu, com muito entusiasmo.

Com Jesus ao fundo destaca não homens e mulheres como inspiradores políticos, mas o Filho de Deus-Foto: Orlando Berti
Com Jesus ao fundo destaca não homens e mulheres como inspiradores políticos, mas o Filho de Deus-Foto: Orlando Berti

“Peço só a compreensão que não me cobrem logo de cara, mas podem cobrar que eu possa fazer e realizar o que está a meu alcance, dar expediente em nosso município, cobrar ação de nossos secretários”.

 E por falar em secretários essa será uma das grandes mudanças no futuro método de administrar do padre. Ele promete que só fará parte da administração dele quem quiser trabalhar. “Secretário tem de dar respostas. Darei condições para ele”.

O padre admite que pretende fazer uma reforma administrativa a médio prazo. “Não agora, mas precisamos rever algumas decisões com extinções de secretarias. Há uma possibilidade pequena, mas há. Ou até mudanças de cadeiras, com pessoas que têm mais habilidade com uma pasta. Valorizarei muito os critérios mais técnicos”, revelou.

ESPERANÇA DE TRABALHO CONJUNTO COM WELLINGTON DIAS

Alegando não ter muitos recursos para obras de maior monta na cidade o Padre Valmir disse que uma das primeiras autoridades que ele irá procurar tão logo assuma a prefeitura é o governador Wellington Dias, seu colega de partido. “Conto com a compreensão em todos os sentidos”, destacou.

INSPIRAÇÕES

Perguntado se pretende se inspirar politicamente em seus maiores correligionários políticos como Lula e Dilma o padre fez uma grande pausa. E, para a surpresa de todos, respira fundo e diz, enfático, que é Jesus Cristo.

“A gente muitas vezes se engana de olhar Jesus Cristo apenas em seu lado religioso. Ele tem um lado político também. Não estou dizendo que não me inspiro nos outros, mas as pessoas vivem tão pisando em ovos politicamente que se dizer o nome de um e não dizer o nome de outro as pessoas ficam com raiva”, disse para não se comprometer sobre suas inspirações políticas. “Vivemos em período de ciumeira”.

Se diz autossuficiente quando o sentido é parar para pensar. “Quando falo em autossuficiência é em quem transmite confiança e responsabilidade, pois consigo muitas vezes mesclar em pessoas, mesclar o que pensam os partidos, pois acredito que todos tenham uma coisa boa”.

MEDOS E ASSÉDIO

O padre disse que não teme nada no cargo que irá assumir. “Só peço a compreensão de todos. Isso não vai me ferir. Só temo a incompreensão das pessoas”.

Tranquilo alega que não é um solucionador de problemas, muito menos de quem está achando tudo muito maravilha de quem está achando que tem rios e rios para investir. Ele disse estar sapiente que terá muitas dívidas para pagar.

“Mas como quem está com pés nos chãos e que sabe das dificuldades, mas que fará mudanças, exigindo com quem trabalha com a gente, e pedir a compreensão de quem tem algo a acertar com a gente!.

“Não deixo que as opiniões externas influenciem nas minhas posições e decisões. Algumas preciso me afastar e me ver de fora, para que as pessoas possam opinar mais de fora, eu estando mais distante”.

Perguntado se o assédio das pessoas aumentou depois que o prefeito Kléber Eulálio foi eleito conselheiro do TCE, disse que aumentou muito, ao menos em 50%. Por conta disso disse, às vezes, se isolar. “Aí é onde falo. Sempre fui assim, por isso me isolo. Há quem pense que é orgulho, mas não é”.

FALANDO EM NOME DE UM GRUPO

Perguntado se seria natural o fato dele pleitear uma reeleição (caso ainda seja confirmado essa possibilidade – já que é um dos pontos a ser vetado na nova reforma política) diz hoje não falar por si próprio, mas falar por um grupo de pessoas. “É um partido, é uma equipe. Não perdi o controle de mim, mas precisamos sempre ouvir o grupo”.

O padre ainda falou nas decepções que a política traz, inclusive no fato de muitas vezes os que apontam os corruptos serem os primeiros a entrarem na corrupção tão logo possam. “Achamos que muitas vezes a corrupção está apenas nos políticos, mas também está quem fica do lado de fora”.

SANTO DE CASA FAZ MILAGRE?

Um dos questionamentos foram balizados justamente se sua sucessora (o padre anunciou no feriadão quem o substituirá na secretaria de Educação – Maria Moura Luz) terá a mesma estrutura da secretaria, com apertos, funcionários em cima do outro e o prédio funcionando em uma casa.

“Já estou acostumado com esse estilo. Mas essa é uma das angústias”, destacou o padre, que destaca que uma de suas primeiras ações é transferir o prédio da secretaria.

O padre reconhece dos problemas do antigo prédio e também que não existe verba para construção de um novo prédio. “Temos verbas para educação e não para a construção. Não existe verba para isso. Isso é um sonho nosso, porém a ser realizado quando tivermos condições de fazermos com recursos próprios”.

Ao finalizar a entrevista despediu-se com a mesma serenidade e gentileza. Picos pode até não ganhar o melhor prefeito de sua história, mas, ao menos no tempo em que foi vice-prefeito o Padre Walmir aprendeu a ser político.

Por Orlando Berti/Portal O Olho 

Colaborou o jornalista Naldinho Martins, da rádio e portal Cidade Modelo

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