No embalo da divulgação de relatórios internacionais prevendo aumento da temperatura e redução das reservas de área no Nordeste brasileiro, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) Meio-Norte acaba de divulgar pesquisa, iniciada em 2003, mostrando a ocorrência de rebaixamento em até 70 centímetros do lençol freático na macrorregião de Picos.
O coordenador da pesquisa Qualidade de Água no Semi-Árido Piauiense, o engenheiro agrônomo Aderson Andrade Júnior, doutor em Irrigação e Drenagem pela ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz) da USP (Universidade de São Paulo) e mestre em Irrigação pela UNESP (Universidade Estadual Paulista), afirmou os pesquisadores chegaram à conclusão que no passado, os poços, principalmente na região de Picos, jorravam e iam até a superfície.
Segundo ele, com o levantamento feito agora os pesquisadores concluíram que está ocorrendo um rebaixamento do lençol freático. – O poço que jorrava não jorra mais -, afirmou Aderson Andrade Júnior.
Ele disse que a causa do rebaixamento do lençol freático é a grande quantidade de poços que está sendo perfurada de maneira indiscriminada. Aderson Andrade Júnior defende o controle da perfuração dos poços porque cada um deles que é perfurado que atinge o aqüífero reduz a oferta da água para os outros poços já abertos e diminui o nível em que a água fica sendo retirada.
Aderson Andrade Júnior afirmou que se o rítmo de perfurações de poços continuar o rebaixamento do lençol freático ficará em até 70 centímetros por ano. A pesquisa apontou que existia praticamente um poço para cada quilômetro quadrado.
A partir dessa pesquisa, a Embrapa Meio Norte formou uma base de dados com informações sobre a qualidade da água do aqüífero Serra Grande, na macrorregião de Picos, no semi-árido do Piauí.
Aderson Andrade Júnior diz que partir de agora os gestores públicos já podem planejar as políticas para o uso racional da água, visando o consumo humano e em projetos de irrigação.
No mapeamento, estão disponíveis, passo a passo, as informações e os mapas de diversos parâmetros de qualidade da água coletada, nos períodos chuvoso e seco da região, em poços, que podem ser localizados por município ou localidade – e o mapa da qualidade da água.
O mapa disponibiliza os parâmetros físicos, químicos e biológicos, além da classificação quanto à salinidade e teores de sódio.
O projeto Qualidade de Água no Semi-Árido Piauiense é um trabalho de fôlego que começou com o inventário de 2.165 poços, em 28 municípios. Os estudos se concentraram em 244 poços selecionados, criteriosamente, para a avaliação da qualidade físico-químico e Bacteriológico da água e dos níveis potenciométricos. A equipe também mobilizou as comunidades com cursos educativos e treinamentos para aplicação de questionários e quanto ao uso racional dos recursos hídricos.
Toda a área estudada, segundo o pesquisador Aderson Andrade Júnior, coordenador da equipe, foi definida em função da importância da água subterrânea para manutenção das populações da região, bem como sob – os aspectos de qualidade de vida e desenvolvimento social -, além das características de fragilidade do manancial.
Os resultados das pesquisas, periodicamente, eram repassados às comunidades através de boletins, com os valores mensurados e a classificação da água, além de recomendações técnicas para a melhoria da qualidade dela. As prefeituras dos municípios pesquisados também receberam as informações em forma de laudos.
O estudo avançou com um inventário das fontes de poluição próximas e sobre a área de recarga do aqüífero. Foram cadastrados cemitérios, lixões, matadouros, hospitais, postos de saúde, minerações, postos de combustíveis, indústrias e lançamento de efluentes. – Esse inventário foi outro ponto importante do trabalho -, lembra Aderson.
O aqüífero Serra Grande é uma importante e vital reserva hídrica subterrânea, que abrange todo o semi-árido da microrregião de Picos, na região sudeste do estado do Piauí, beneficiando mais de 250 mil pessoas.
FONTE: Portal Meio Norte