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Picos 125 anos; Relatos da gente que fez história na ‘Capital do Mel’

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Entre picos montanhosos e um solo fértil cortado pelas águas antes cristalinas e correntes do Rio Guaribas, o então pequeno povoado pertencente ao município hoje Bocaina, em 12 de dezembro de 1890 torna-se cidade. Picos “cidade-modelo” tem neste período sua emancipação política.

É com este amor pela cidade que todos os picoenses comemoram hoje 125 anos pelo aniversário de Picos, um lugar que diariamente abarca sonhos e vitórias do povo sertanejo piauiense.

Imagem panorâmica da cidade de Picos - Foto: Reprodução
Imagem panorâmica da cidade de Picos – Foto: Reprodução

De uma gente simples, batalhadora, alegre e receptiva, o pequeno povoado que passara a cidade se desenvolve rapidamente com uma economia girando em torno da produção agrícola do alho, milho, feijão, arroz e de outros produtos. Com o passar do tempo, o município passa a ter ares de “cidade grande”, e o desenvolvimento econômico floresce beirando o surgimento das indústrias, Indústria Coelho, Coca-Cola que empregavam centenas de pessoas (atualmente fechadas).

Certamente contar e recontar a história de Picos têm mais significância quando estas narrativas são relatadas por pessoas humildes, de fé, determinadas, e porque não por pessoas que através do trabalho venceram na vida. São histórias como a de Zé do Alho, Rosimar Albano, Maria da Conceição Leles que descrevem bem o jeito de ser do povo picoense.

A fé que ergue e rege uma vida

Rosimar Leal Fontes Albano, 73 anos, é uma mulher de fé e dotada de dons, como bem trata a expressão. Sua história de vida é entrelaçada pela crença e ensinamentos cristãos que nos momentos difíceis e de perdas lhe levaram e motivaram a seguir em frente.

De professora aposentada à membro do Apostolado da Oração e cantora na Igreja Sagrado Coração de Jesus, Rosimar Albano conta que a sua fé mesmo sendo genuína, se deve por influência de sua família que desde seus primeiros passos lhe pregavam os ensinamentos religiosos.

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“Eu costumo dizer que minha fé é nata, pois desde pequena tinha muita empolgação com as coisas da igreja vendo o exemplo de meus pais e da minha família. No povoado de Vaca Morta, terra de minha descendência familiar, antes mesmo de existir sacerdotes para proferir a palavra, meu tio Jerônimo era quem realizava as celebrações religiosas, e isto foi me interessando e me apaixonando cada vez mais”, conta Rosimar.

Rosimar relata ter vivido momentos de provação ao longo da sua vida, perda de seus três irmãos, pais, além de ter sido diagnosticada com uma doença que tem vitimado muitas mulheres. A mesma menciona que este foi um dos momentos mais difíceis da sua vida, mas que após três anos e hoje considerada sã pela medicina vê isto como um milagre.

“Neste momento como pessoa humana, eu vacilei, parecia que o mundo havia desabado, mas por nenhum instante eu deixei a minha fé de lado. Recorri as minhas orações a Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, reagi e venci com coragem e hoje estou curada”, disse a aposentada.

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A fé é algo que a acompanha. Diante disto, após se aposentar, mas não desejando ficar omissa, procurou abrir seu próprio negócio, uma loja de artigos religiosos. Até hoje o negócio tem dado certo e serve até como terapia diária. No entanto, Rosimar Albano lamenta que no estágio atual da sociedade as pessoas pouco falam de Deus, de dar o testemunho para a família. Devido a isto, a fé acaba não sendo difundida as novas gerações e a humanidade se torna cada vez mais distante daquele que rege nosso caminho.

Do alho ao sorvete

Vindo da cidade de Bocaina, José de Aquino Dantas, popularmente conhecido como “Zé do Alho”, fez da terra picoense seu novo lugar de morada. Seduzido pelo desenvolvimento econômico que o município estava alcançando, Zé do Alho, dedicou-se à plantação do alho nas margens do rio Guaribas, década de 60.

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“Meu primeiro dinheiro no bolso foi obtido através do alho, e dediquei cinco anos da minha vida para este ramo. Não me arrependo nunca por ter me dedicado a este trabalho, pois consegui muitas coisas, inclusive minha casa que comprei em Picos foi através desta renda” disse o comerciante.

O mesmo relata que abandonou a atividade de comercializar o produto devido a população picoense e do Piauí de maneira mais geral, passarem a comprar o alho que era trazido de outros estados nordestinos, e com isso desprezando o produto que era produzido na região de Picos. O alho foi perdendo espaço de venda, chegando ao ponto de parar com a atividade.

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Em 1976 por influência de um homem que nem mesmo conhecia e, que lhe havia sugerido abrir uma sorveteria alegando ser um negócio rentável, o mesmo comprou sua primeira máquina de sorvetes que inicialmente não sabia manusear, mas que com o tempo lhe deu bons frutos.

No princípio trabalhavam ele e a família, mas com a expansão do negócio começou a realizar contratações. Atualmente trabalha com mais de 40 pessoas que dependem deste trabalho para sustentarem suas famílias.

Zé do Alho afirma não existir fórmula para o sucesso, “mas seguindo regras básicas como ter zelo e amor pelo que se faz oferecendo um produto de qualidade para o cliente com certeza o negócio trará bons resultados. Digo que sempre tenho respeito pelo povo daí a origem da palavra que também dá nome a minha sorveteria”, garante o comerciante.

Comerciante que hoje é líder no mercado de sorvetes ainda diz sentir saudade do tempo que vendia alho, e que caso o negócio venha a prosperar novamente pensa em dedicar-se a comercialização do alho.

Uma mulher a frente de seu tempo

Uma mulher de fibra, determinação, garra e sem medo de viver em plenitude, assim se define Maria da Conceição Leopoldo Leles. Uma picoense que em seu tempo de juventude se destacou pela sua irreverência e por ocupar espaços tidos por exclusividade pelo público masculino.

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Maria da Conceição Leles conta a nossa reportagem que seu pai mesmo sendo analfabeto era também um homem a frente de sua época, pois sempre teve um relacionamento aberto para com seus filhos, porém como era característico dos pais neste período era bastante rígido com suas filhas mulheres. No entanto, a mesma diz que sempre encontrava uma maneira de convencer seus pais para sair de casa.

Comum entre as jovens era sempre terem amigas mulheres para contar suas confidências românticas, mas esta regra não se aplicava à Maria Conceição. Ela sempre teve no hall de melhores amigos, homens e por conta disto sofreu muito preconceito pelos moralistas.

Começou a trabalhar muito cedo. Sempre teve uma ligação muito forte com a comunicação, trabalhando, portanto na Rádio Difusora de Picos (1º veículo de comunicação da cidade), posteriormente escreveu para o jornal impresso da capital Teresina – O Dia por dez anos, onde era colunista da temática “Empresas e Empresários”, assuntos tipicamente discutidos pelo público masculino e que ela escrevia com facilidade.

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Mas na história desta mulher, outros fatos impressionam. A mesma era casada com um bancário, “sonho de desejo” de todas as mocinhas naquela época. Seu esposo trabalhava na Agência do Banco do Brasil em Picos, e em decorrência de problemas internos tinha apenas 10 dias para ser demitido do emprego. Durante este tempo, ela conta que chegou a entrar em contato com o Presidente do Banco do Brasil, mas não obteve sucesso.

Não desistindo de mudar esta realidade, ela conseguiu entregar uma carta para o Presidente do Brasil, João Batista Figueiredo em uma visita que o mesmo realizou a cidade de Jaicós na inauguração da pedra fundamental do açude (década de 70). E o resultado foi que seu ex-marido continuou no emprego permanecendo por 36 anos.

Atualmente Maria da Conceição Leles ainda preserva a irreverência em suas palavras sempre com muito humor. A mesma ainda conta que para passar o tempo e conservar o cérebro ativo passa grande parte do tempo preenchendo palavras cruzadas.

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