Picos: um ano após pedreiro ser morto pela PRF, esposa permanece desassistida e policiais seguem trabalhando
Segundo Maria Raimunda, ela nunca foi procurada por nenhum policial da PRF. O assassinato de seu esposo, mantenedor da casa, lhe deixou com grandes dificuldades.
Mais de um ano após a morte do pedreiro Joilson Pereira, baleado por um agente da Polícia Rodoviária Federal, em Picos, o caso segue com alguns questionamentos, especialmente sobre que medidas foram tomadas pelo órgao em relação ao policial que cometeu o ato e para com a viúva.
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O Portal RiachãoNet entrou em contato com Maria Raimunda Lima, viúva do pedreiro, e ela informou que nunca foi procurada pela PRF para nenhum tipo de assistência. Ela frisou que com a morte de Joilson, a vida em casa ficou mais difícil, não apenas por terem tirado seu companheiro, mas porque ele também era o mantenedor da casa.
Ouça o áudio com o depoimento
“Minha vida está pior do que o que era. Uma, porque sinto falta dele demais. Outra, porque quem mantinha a casa de tudo era ele. O que ganho hoje só dá para pagar meus talões. Estou comendo porque os outros estão me dando. O que eu sei é que quem está mais sofrendo sou eu, não é ele não [o policial]. R$ 300,00 por mês não é nada não. Ele [Joilson] era quem mantinha a casa de tudo. Eu não sei nem o que estou fazendo de minha vida porque não estou com emprego. Só ganho R$ 300,00 por mês”, disse ela indignada.
Segundo a viúva, ela nunca foi procurada pela instituição para saber como estava ou prestar algum tipo de assistência, nem mesmo quando esteve acompanhando seu esposo no hospital durante as poucas horas de vida que ele ainda teve.
“Até o momento não teve nada ainda [nenhuma conversa com a PRF]. Eles nunca me procuraram. Nenhum. Aqui em casa eles não vieram, não. Nem em lugar nenhum. Nem para saber se eu estava precisando de algo. Quando estive no hospital, enquanto estive lá, ninguém me procurou”, afirmou.
Ela enfatizou ainda que pensou em procurar a imprensa ou fazer alguma manifestação a fim de ver se teria atenção da Justiça para o caso de seu esposo que nunca foi solucionado.
“Já tinha dito até a ele [advogado] para procurar a imprensa, porque só eu sei o que estou passando de dificuldade aqui dentro de casa. Fazer manifestação para que eles reconheçam o que fizeram. Eu já perdi foi 8 quilos. Todo dia eu choro por causa dele. Não tenho condições nem de fazer acompanhamento médico”, lamentou.
Relembre o caso:
O pedreiro Joilson Pereira, 39 anos, foi alvejado com dois tiros nas costas por um policial da PRF após desobedecer uma ordem de parada, na noite do dia 2 de junho de 2020. No dia seguinte, 03, ele veio a óbito.
Segundo depoimentos de um amigo da vítima, à época dos fatos, ele não respeitou a ordem de parada porque havia ingerido bebida alcoólica e estava sem capacete, mas que toda a sua documentação, e da motocicleta, estavam em ordem.
À época, a viúva de Joilson declarou que preferia que seu esposo tivesse sido preso, pois assim ele estaria com ela.
“Se tivessem prendido ele, ele hoje estaria comigo. Ele estava sem capacete, estava alcoolizado, mas não tem cabimento terem atirado nele. Um bêbado não reage, se tivessem prendido, hoje ele estaria aqui comigo”, disse a viúva de Joilson, Maria Raimunda Lima, à época dos fatos.
O caso foi comparado ao do segurança George Floyd, morto dias antes por um policial nos Estados Unidos. Ambas as ações foram consideradas pela população como atos truculentos e racistas. No dia 08 de junho fora realizada, em Picos, uma manifestação com a mesma temática da ocorrida nos EUA – Black Lives Matter, ou Vidas Negras Importam.
Artistas, estudantes e sociedade em geral, mesmo em meio à pandemia, saíram às ruas pedindo Justiça para a família do pedreiro morto. Contudo, até o momento, segundo a própria viúva, nada foi feito.
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Matérias em diversos portais estaduais noticiaram que a Polícia Federal apreendeu a arma utilizada pelo agente de segurança, a fim de entrar no rol de provas materiais do inquérito.
Políticos estaduais e órgãos públicos, como a Ordem dos Advogados do Brasil – Subsecção de Picos, manifestaram-se contra a truculenta ação da PRF no referido caso, que vitimou o trabalhador picoense Joilson Pereira.
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Nota à sociedade
A Polícia Rodoviária Federal, através da Superintendência no Piauí, enviou uma nota ao RiachãoNet informando que no curso da fatalidade houve uma “Investigação Preliminar Sumária, a fim de colher indícios de materialidade e autoria de possíveis irregularidades funcionais”.
Posteriormente, a Corregedoria Regional foi acionada a fim de dar prosseguimento ao inquérito, com oitivas de testemunhas, examinação de imagens capturadas pelas câmeras de vigilância instaladas próximas ao local dos fatos e análise de laudos.
Instaurou-se, após encerramento da fase investigativa, processo administrativo disciplinar aos policiais da PRF presentes na viatura no dia dos fatos. Todos eles, segundo nota, continuam realizando seus trabalhos laborais e à disposição da Corregedoria.
“A Polícia Rodoviária Federal no Piauí ressalta que vem colaborando com os órgãos responsáveis pela apuração do ocorrido, mais precisamente a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, visando o pleno esclarecimento da ocorrência. A PRF no Piauí reafirma o seu compromisso institucional com a preservação da regularidade dos serviços prestados a toda sociedade piauiense, principalmente no que tange a preservação da vida e a garantia dos direitos humanos a todo cidadão”, finalizou a nota.
Veja nota na íntegra: