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Profissionais do sexo: o risco de se trabalhar na pandemia em Picos

Pela falta de oportunidade, mulheres têm se arriscado para poderem pôr comida dentro de casa com o trabalho.

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Uma das profissões que mais foi afetada durante a pandemia foi a das profissionais do sexo. Com o risco iminente de infecção pelo coronavírus devido o contato entre os corpos, o trabalho da classe se viu prejudicado, pois uma das medidas de segurança emitidas pelos órgãos de Saúde foi a de distanciamento social.

Ao tempo em que há o medo da infecção pelo vírus, muitas mães temem passar – algumas já o estão – fome, pois é dali que tiram o sustento de suas famílias. Esse é o relato de vida real que muitas mulheres têm enfrentado em Picos, segundo a presidente da Associação de Profissionais do Sexo em Picos, Leonísia Osório.

Leonísia Osório, presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Picos

A representante da Aprosep relatou que por muito tempo as profissionais se viram obrigadas a não exercerem sua profissão por conta do alto risco de contaminação do vírus da Covid, mas que, conforme a situação foi se estabilizando, elas retornaram às suas atividades, tentando, na maioria das vezes, que seja de maneira segura.

“Muitas mulheres estão passando por momentos difíceis na associação. No início da pandemia, no ano passado, a gente recebeu algumas cestas básicas de parceiros, de outros estados. Tivemos um apoio, não como a gente esperava, mas recebemos algumas doações de álcool em gel, máscaras e produtos de limpeza. Mas, de janeiro para cá, temos muitas mulheres passando por necessidades, com filhos. Essas pessoas que são muito vulneráveis e não têm outra oportunidade de trabalho nesse momento de pandemia. Muitas relatam medo da doença, mas, como têm filhos, precisam se submeter”, disse a presidente da Aprosep.

Na Aprosep estão filiadas cerca de 400 mulheres. Leonísia Osório relatou que, no início da pandemia, muitas estavam grávidas, o que dificultou a vida destas. Ela disse que a maioria não tem acesso aos benefícios sociais e mesmo as que têm não conseguem se sustentar e nem aos filhos com a quantia, por isso precisam arriscar.

Imagem ilustrativa

“Muitas engravidaram e estão com crianças pequenas e não têm trabalho, não têm opção de vida. Com o lockdown os bares estão fechando e elas se deslocam de um local para outro para arrumar um parceiro, conseguir algum dinheiro para comprar algo para dar de comer aos filhos. Muitas não receberam o auxílio, e as que recebem o Bolsa Família sabemos que não dá para sobreviver. Então elas se arriscam mesmo dessa forma, indo para algum local onde possam estar fazendo programa”, relatou.

Leonísia disse que, desde antes da pandemia já tinha dificuldades para dar suporte à associação, pois trabalha praticamente sozinha na luta pelas profissionais do sexo. Com a chegada da doença ao município, esses obstáculos aumentaram, pois além do ‘sumiço’ dos parceiros, que em sua maioria são idosos, as doações ao grupo diminuíram consideravelmente.

“A Aprosep está dando suporte, mas está sendo difícil, pois não estamos recebendo apoio. São muitas mulheres passando por momentos difíceis, as quais ficam em ruas, praças, casas abandonadas. Os parceiros sumiram, pois muitos têm medo da doença, visto que a maioria deles é idoso. Outro agravante é que muitas dessas mulheres são usuárias de drogas. Não há como eu, sozinha, fazer um trabalho social dentro de uma cidade do porte de Picos. Tenho muita força de vontade, mas sem condição financeira de levar alimento a essas mulheres”, disse.

Imagem ilustrativa (AFP/P – Utomi Epkei)

Com a pandemia e necessidade de utilizar máscaras e álcool em gel, Leonísia disse orientar ao máximo as mulheres quanto aos riscos, mas algumas, no momento da diversão, fazendo uso de bebidas, esquecem. Falou ainda que a entrega dos preservativos tem ocorrido de forma limitada, pois está tendo escassez.

“Até a entrega do preservativo também está sendo difícil, porque estava em falta. Busquei uma solução no Estado e fui gratificada com alguns da associação de lá. Fiz a entrega em cada bar onde essas mulheres estão. Todo esse trabalho é cansativo, mas não desisto de estar nessa luta, buscando apoio e soluções para elas. Eu procuro orientar e peço apoio do serviço social e de algum outro órgão para que possamos estar fazendo um trabalho social junto a essas mulheres que estão em situação de vulnerabilidade”, conclamou.

A presidente da Aprosep pede que a sociedade volte seus olhos para a classe a ajude com doações de alimentos, máscaras e álcool em gel. Os interessados devem entrar em contato com ela pelo telefone (89) 99927-5832.

“É muito perigoso fazer esse trabalho. Elas arriscam a vida delas, dos filhos e dos parceiros, mas não têm outra oportunidade de vida. O que a gente busca é que elas sejam vacinadas logo, pois muitas estão acima dos 50, 60 anos. E, mesmo imunizadas, elas têm que ter a prevenção. Muitas colegas de trabalho já faleceram e ficamos muito tristes pela situação em que estamos vivendo”, pontuou.

Doação Lions Clubs International
A organização internacional Lions Clubs, cujo objetivo é atender a causas humanitárias e promover trabalhos voltados às comunidades locais, fez a doação de 35 cestas básicas, na manhã desta terça-feira (04) à Associação de Profissionais do Sexo de Picos.

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