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Projeto social transforma jovens em atletas

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Os atletas da Associação de Moradores do Bairro São Joaquim (AMCOSAJ), área de intervenção do Programa Lagoas do Norte, estão colocando o Piauí em destaque nos pódios do Atletismo. A última medalha foi conquistada por Artêmio Wellington na semana passada. Ele foi campeão brasileiro nos 800 metros, Bragança, município de São Paulo, cravando o tempo de 1:55.36 na final dos 800 metros, deixando para trás Murilo Machado Barbosa, do Rio Janeiro, que ficou em segundo com a marca de 1:55.41. Lucas Pinho Leite, do Mato Grosso, conseguiu 1:55.86, ficando em terceiro.

 (Crédito: Raíssa Morais)
(Crédito: Raíssa Morais)

Assim como Artêmio, dezenas de jovens realizam treinos durante a semana no Parque Lagoas do Norte. Os treinamentos são comandados pelo professor Sebastião dos Santos, que já realiza esse trabalho na região do São Joaquim há 20 anos. Ele é o maior incentivador do esporte na região e resgata garotos da periferia, transformando-os em verdadeiros atletas. O projeto social é apoiado pela Prefeitura de Teresina .

O professor Sebastião, acompanhado de Lucas, um ex-atleta do projeto e que atualmente é técnico auxiliar, revela que ao todo 60 crianças e adolescentes participam do projeto e se revezam nos treinos no turno da manhã e tarde. “Nós treinávamos na Uespi (Universidade Estadual do Piauí), mas devido à construção do Parque Lagoas do Norte nós mudamos com esses meninos e meninas que têm uma média de idade de 11 a 16 anos”, disse.

Professor Sebastião mantém projeto que incentiva o esporte e promove cidadania (Crédito: Raíssa Morais)
Professor Sebastião mantém projeto que incentiva o esporte e promove cidadania (Crédito: Raíssa Morais)

De acordo com o técnico, há um impacto muito grande do projeto dentro da própria comunidade, já que muitos pais e mães procuram o espaço para inserir seus filhos, mas é preciso obedecer alguns critérios, como altura, obediência, disciplina e, acima de tudo, gostar de atletismo e dos esportes que fazem parte dessa modalidade, como correr, arremessar pesos e lançar varas.

Conscientização

No projeto Atletismo Futuro, o professor costuma também trabalhar, além da prática esportiva, o lado social desses jovens com ensinamentos e valores pessoais. “Eu sempre costumo conversar com cada um deles e orientar sobre a vida, sempre digo que não é só o esporte, mas tem a sala de aula com que é preciso se preocupar, os estudos e buscar ser mais completo na vida. Nós tocamos em muitos assuntos e um deles que mais acho primordial é combater a penetração das drogas nessa área”, conta.

Funcionando em uma área considerada de risco e de vulnerabilidade social, o professor revela que no passado chegou, inclusive, a se oferecer para treinar pessoas envolvidas com o tráfico de drogas. “Eu comecei no atletismo em 1997 e estamos aqui no Lagoas do Norte desde 2015 e durante esse tempo abraço todos que procuram o projeto com todo carinho, tanto que muitas vezes tiro dinheiro do meu próprio bolso para manter esse projeto que além de incentivar o esporte, também promove cidadania”, frisou.

Ex-atleta retorna ao projeto como treinador

O ex-atleta se chama Lucas de Sousa Oliveira, de 24 anos, mas no projeto é conhecido como Mário, apelido oriundo do game Super Mario Bros, devido à agilidade e rapidez enquanto corria. Ele fez parte do time oficial durante dois anos, participou de competições, subiu ao pódio, mas foi em 2013, momento em que o treinador Sebastião dos Santos precisou se ausentar para realizar uma cirurgia cardíaca, quando ficou afastado por quase um ano das suas funções, que o jovem se descobriu treinador. Ele assumiu as funções de técnico auxiliar e comandou a turma de jovens para que o projeto não chegasse ao fim.

“O professor adoeceu e precisou fazer uma cirurgia e o atleta mais experiente naquela época era eu e comecei a ajudá-lo. Até que ele precisou se afastar de vez, e eu passei a tomar conta da equipe. Quando vi o primeiro atleta que eu treinava subir ao pódio e conquistar uma medalha, percebi que o meu ramo era fazer novos atletas”, ponderou.

Lucas descobriu talento para o esporte e depois se revelou como ótimo treinador (Crédito: Raíssa Morais)
Lucas descobriu talento para o esporte e depois se revelou como ótimo treinador (Crédito: Raíssa Morais)

Com objetivo real de se tornar treinador, Lucas Oliveira, o Mário, já começa a se preparar para prestar vestibular para Educação Física e se tornar um treinador profissional para poder voltar a sua comunidade e prosseguir com o projeto que incentiva e oportuniza que jovens atletas descubram seus potenciais e os explorem de maneira profissional. “Fiquei no projeto dois anos como atleta, parei e retornei como treinador auxiliar para poder ajudar a equipe”, finaliza.

Os treinadores dizem ter, também, a preocupação e cuidado de acompanhar o dia a dia dos jovens, seja no aspecto escolar, familiar e social, para dar um apoio completo a esses atletas promissores, buscando sempre melhorar tanto a parte física e de condicionamento, como o lado pessoal de cada adolescente que inicia os treinamentos na AMCOSAJ. (W.B.)

 (Crédito: Raíssa Morais)
(Crédito: Raíssa Morais)

Da corrida atrás da pipa ao ouro

Artêmio Wellington é um dos atletas prodígios do professor Sebastião dos Santos. O garoto de 17 anos iniciou no projeto há dois anos e desde então vem ganhando notoriedade e visibilidade na prática esportiva do atletismo. Recentemente, se tornou o primeiro atleta piauiense a conquistar um ouro na prova dos 800 metros na história do Piauí. O menino que vem de origem humilde lembra que foi correndo atrás de pipas pelo bairro Matadouro e toda zona Norte que foi percebido como um potencial corredor.

Artêmio foi campeão brasileiro nos 800 metros, em Bragança (SP), e se prepara para as Olimpíadas (Crédito: Raíssa Morais)
Artêmio foi campeão brasileiro nos 800 metros, em Bragança (SP), e se prepara para as Olimpíadas (Crédito: Raíssa Morais)

O atleta afirmou que a recente medalha vem a coroar o trabalho desenvolvido diariamente na área de intervenção do Programa Lagoas do Norte. “Esse projeto foi um grande incentivo para mim, pois assim pude trazer um bom resultado do Piauí e mostrar que é possível treinar”, destacou o jovem ao acrescentar que ao mesmo tempo que a satisfação pela conquista é muito grande, cresce também a responsabilidade para todos que realizam o trabalho.

“Eu sei que não só eu, mas outros atletas podem trazer mais medalhas para o Piauí e para isso é preciso ter foco, treino e atenção”, avaliou. Com inspiração, no atleta britânico Mo Farah, referência no atletismo mundial e detentor do bicampeonato olímpico dos 10.000m, Artêmio adianta que está se preparando também para competir nas Olimpíadas.

Medalha de ouro de Artêmio (Crédito: Raíssa Morais)
Medalha de ouro conquistada por Artêmio (Crédito: Raíssa Morais)

E apesar de ter garantido a medalha de ouro em Bragança Paulista, Artenio fala que não fez a sua melhor performance e que o clima foi o principal agravante, no entanto, em Teresina a rotina de treinos do atleta é de segunda a sábado e já tinha participado de outras competições estaduais fazendo com que seu foco para competições nacionais e internacionais ficasse cada vez maior.

“Meu treinador me falava muito que eu tinha capacidade, coloquei isso na minha cabeça e começo a trazer bons resultados para o Piauí”, afirmou. Em 2015, aos 15 anos, quando começou a fazer parte do projeto, o atleta já foi campeão Norte/Nordeste e desde sempre recebe o apoio da família. “A minha família sempre me apoia, me dá um grande incentivo e isso me ajuda muito não só no meu rendimento físico, mas no psicológico, pois assim que posso melhorar muito meu desempenho”, acrescentou.

 (Crédito: Raíssa Morais)
(Crédito: Raíssa Morais)

Para Artêmio, apesar das limitações e dificuldades, os jovens atletas da zona Norte de Teresina têm conseguido realizar um bom trabalho com a ajuda do treinador Sebastião. O técnico, inclusive, enfatiza que a Prefeitura tem ajudado no que se refere a uniforme e transporte, mas faltam materiais complementares para melhorar o trabalho realizado com os atletas como tênis, pesos e dardos. “O material que temos aqui 70% saiu do meu bolso e faço isso por amor, porque esporte está na veia do treinador e mesmo em situações difíceis, vou continuar”, falou.

Jovens se sentem motivados

Inspirada em Artêmio Wellington, Vitória Ellen, de 14 anos, integra o time do projeto há um ano e nesse período pode participar de algumas competições mirins e vencer em primeiro lugar algumas delas como no 75 metros, 250 metros e revezamento feminino. “Eu amo esse projeto, quero me especializar e me tornar atleta profissional. Eu treino todos os dias de manhã e no final da tarde e consigo conciliar bem com os estudos”, disse.

Vitória já sonha em se tornar atleta profissional (Crédito: Raíssa Morais)
Vitória já sonha em se tornar atleta profissional (Crédito: Raíssa Morais)

Morador do bairro São Joaquim, Erisson Belchior participa do projeto há apenas 4 meses e durante uma aula de educação física na escola foi convidado pelo treinador para praticar atletismo devido à sua estatura e físico característicos de um praticante de atletismo. “Para mim é uma honra estar aqui até com grandes atletas que já estão competindo, ganhando ouro fora e são exemplos para mim e também me desviam de caminhos errados”, diz o adolescente de 14 anos. (W.B.)

Erisson, 14 anos, participa do projeto há 4 meses (Crédito: Raíssa Morais)
Erisson, 14 anos, participa do projeto há 4 meses (Crédito: Raíssa Morais)

Olho apurado para identificar jovens talentos

O professor Sebastião dos Santos afirma que em apenas olhar um menino ou menina consegue identificar um futuro atleta por sua passada, pela forma como caminha e se movimenta, e enxerga dentro do seu time grandes potenciais para o Piauí. “Eu fui uma espécie de miniatleta e adquiri bastante experiência e durante minha formação de educação física, na fisiologia humana, a gente aprende alguns pontos importantes, então hoje eu conheço quem pode ser atleta a partir do seu caminhado”, pontuou.

“O professor Sebastião é uma bênção na vida dessa meninada, pois eles conseguem ter um bom futuro e desempenho não só para carreira, mas também para o futuro deles”, avaliou Artêmio ao frisar a importância do projeto na vida desses adolescentes da região.

Erisson, 14 anos, participa do projeto há 4 meses (Crédito: Raíssa Morais)
Erisson, 14 anos, participa do projeto há 4 meses (Crédito: Raíssa Morais)
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