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Piauí é envolvido em denúncia de TV Alemã sobre trabalho escravo

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Um documentário produzido por uma emissora pública de TV na Alemanha denunciou graves problemas na produção das famosas balas de goma “gummibärchen”: escravidão moderna na colheita de folhas de carnaúba no Nordeste brasileiro. Segundo o documentário, a Haribo compra cera de carnaúba de fazendas onde os trabalhadores recebem até 40 reais por dia para cortar as folhas com longas e pesadas foices, sob sol escaldante e sem roupas adequadas.

O Ceará e o Piauí produzem juntos 95% da demanda nacional que, segundo o documentário, é exportada para a empresa foco da denúncia. O pó cerífero de carnaúba é o terceiro produto de extração vegetal com maior valor no Brasil, com base em 2016, rendendo R$ 187,5 milhões. No Piauí, a produção caiu 19,75%. Conforme relatos apresentados aos pesquisadores do IBGE, a queda pode ser atribuída à má formação da palha da carnaúba, devido à seca prolongada em algumas regiões do estado, e à dificuldade de encontrar mão de obra para trabalhar na atividade.

Corte da palha de carnaúba-Foto: Reprodução

POLÊMICA ENVOLVENDO A HARIBO

A fabricante de balas alemã Haribo foi posta na defensiva nesta semana por um documentário da emissora pública alemã ARD que denunciou condições precárias na produção de ingredientes dos famosos gummibärchen (balas de goma colorida em formato de ursinhos) e outros produtos, que são vendidos em todo o mundo, inclusive no Brasil.

O documentário de 45 minutos encontrou problemas na produção de cera de carnaúba no Brasil e de gelatina animal na Alemanha. A cera de carnaúba, que é usada para dar brilho aos gummibärchen e impedilos de grudarem uns nos outros, é obtida das folhas da carnaúba, uma palmeira do Nordeste brasileiro.

A cera também é usada em produtos como óleo automotivo, cera para sapatos e fio dental, e as exportações anuais para vários países, principalmente Estados Unidos, Japão e Alemanha, chegam a 118 milhões de dólares, afirmou o documentário.

ESCRAVIDÃO MODERNA
Os responsáveis pelo documentário descobriram que a Haribo compra cera de carnaúba de fazendas onde os trabalhadores recebem até 40 reais por dia para cortar as folhas com longas e pesadas foices, sob sol escaldante e sem roupas adequadas. A planta tem espinhos cortantes, que podem ferir os trabalhadores. Em muitos casos, os trabalhadores são forçados a dormir ao relento ou em contêineres, não têm banheiros e bebem água não filtrada de rios. Alguns são menores de idade.

As condições nas fazendas são tão ruins que a polícia brasileira costuma fazer  ações para libertar trabalhadores, afirmou o documentário. Sergio Carvalho, um funcionário do Ministério do Trabalho em Fortaleza, disse que as denúncias contra a indústria da cera de carnaúba estão aumentando, e que as autoridades já encontraram inúmeras pessoas trabalhando em condições que poderiam ser descritas como escravidão.

“Os trabalhadores são tratados como objetos, pior que animais”, afirmou. “Fico imaginando como os pais das crianças do primeiro mundo que comem essas balas se sentiriam se soubessem que o produto tem o DNA do trabalho escravo.”

O escritório alemão da Anistia Internacional afirmou que as empresas alemãs são responsáveis, bem como o governo, por verificar se seus fornecedores respeitam os direitos humanos. “Se há abusos, as empresas devem corrigir o problema e pagar indenizações”, disse a especialista em economia Lena Rohrbach, da Anistia. “Infelizmente, o governo alemão falha na hora de forçar as empresas a cumprir seu dever.”

CARNAÚBA É OFICIALMENTE SÍMBOLO DO ESTADO
O governador Wellington Dias oficializou, em setembro, a carnaúba (Copernicia Prunifera) como árvore símbolo do estado do Piauí. A solenidade de assinatura do decreto ocorreu na Praça Cultural Francisco das Chagas de Araújo Costa Júnior, sob a Ponte JK, na Avenida Marechal Castelo Branco, em Teresina.

Carnaúbas na avenida Marechal Castelo Branco (Foto: Trekearth.com)

Com 49%, a carnaúba foi a vencedora da disputa realizada por meio de consulta pública. A ação foi fruto da parceria entre a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semar) e a Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Quatro tipos de árvores foram colocados à disposição do público para escolha: bacuri, jatobá, carnaúba e ipê amarelo.

Na ocasião, o governador participou do plantio de 25 mudas. “É um marco importante, pois a árvore foi eleita de forma democrática. É interessante que toda a equipe se envolveu e a população participou animada da votação. A carnaúba já é uma árvore protegida no estado. Temos uma das maiores reservas de carnaúba do planeta, portanto, é uma grande responsabilidade proteger essa espécie, que nos representa bem com a sua beleza, além de ter uma força econômica relevante”, destacou Wellington.

“QUEREMOS LEVAR ALEGRIA A CRIANÇAS E ADULTOS”
Em resposta, a Westfleisch afirmou que não estava ciente de quaisquer violações das leis de proteção dos animais em suas fazendas, e a Gelita afirmou que apoia todas as medidas para a “criação de animais de forma apropriada à espécie”.

A Gelita também afirmou que a pele de animais que a empresa processa vem “exclusivamente de animais saudáveis, que são abatidos em abatedouros autorizados e sujeitos à fiscalização.” Já a Haribo afirmou que não estava ciente de qualquer violação de suas normas de produção, mas que vai abordar a questão com seus fornecedores “de forma proativa”.

“Somos uma empresa que quer levar alegria para crianças e adultos. Não podemos aceitar o desrespeito a normas sociais e éticas.” A Haribo acrescentou que trabalha de forma preventiva para detectar problemas ao longo de toda a sua cadeia de produção. A empresa com sede em Bonn, no oeste da Alemanha, afirmou ainda que desconhecia se as fazendas de porcos mostradas eram de fato de um de seus fornecedores e que vai buscar mais informações com a ARD.

Fonte: Oito Meia | Com informações da Folha de São Paulo

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