Após operação da PF, pais temem fechamento de clínicas em Picos
Clínicas de reabilitação foram alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de desvio de R$ 17 milhões do SUS.
Após operação deflagrada pela Polícia Federal, na última quarta-feira (04), que apurou fraudes no credenciamento de Centros Especializados de Reabilitação na cidade de Picos junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), pais de crianças atendidas nas clínicas investigadas temem que os filhos fiquem sem atendimento especializado.
Isso porque, a investigação da Polícia Federal concluiu que as duas clínicas do município teriam desviado cerca de R$ 17 milhões entre fevereiro de 2016 e março de 2019, o que acarretou na suspensão do repasse de verbas para os Centros Especializados de Reabilitação.
Segundo apurou o O DIA, um dos alvos da operação é a Associação Piauiense de Atenção e Assistência em Saúde (APAAS), em Picos. Com repasses suspensos há seis meses, a clínica oferece atendimentos de otorrinolaringologia, oftalmologia, neurologia, neuropediatria, fisioterapia, entre outros.
A mãe de uma das crianças atendidas na APAAS, Taylane Martins, faz um apelo para que a clínica não pare de atender pelo SUS e deixe os pacientes sem atendimento. Segundo ela, o seu filho recebe atendimento especializado na clínica duas vezes por semana.
“É muito difícil para nós ficarmos sem o centro de reabilitação. Eu sempre fui muito bem atendida. Pra gente ficar sem isso daqui é a mesma coisa que ficar sem água, ninguém consegue sobreviver sem água e nossos filhos não conseguem sobreviver sem o centro de reabilitação”, lamenta.
Outra paciente atendida pela APAAS é Maria Vieira. A idosa afirma que além dela, o marido também faz fisioterapia no centro. “Meu apelo é para que não feche porque meu marido faz fisioterapia do joelho. A fisioterapia é para conservar e, se ele não fizer, ele não anda. Ele faz esse tratamento há 10 anos e não tem um lugar que a pessoa seja mais bem atendida do que nessa clínica”, enfatiza.
A diretora da APAAS, Luciana Martins, explica que a clínica atende cerca de 1.100 pacientes advindos de 70 municípios da região de Picos. Segundo ela, a imbróglio se deve a um erro no cadastro de informações junto ao Ministério da Saúde, o que teria causado a auditoria no Centro e, consequentemente, a suspensão de recursos.
“Esse erro já foi corrigido, é uma inverdade que temos enxerto de pacientes. Estamos há seis meses com os repasses suspensos e até o presente momento continuamos os serviços, mesmo sem receber. Para nós, a visita da Polícia Federal foi uma surpresa porque a gente nunca se negou a entregar nenhuma documentação”, argumenta.
A diretora do centro alega que toda a documentação necessária já foi enviada ao Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), ao Ministério da Saúde e à Coordenadoria da Pessoa com Deficiência. A clínica agora aguarda um parecer para definir se os atendimentos serão ou não suspensos.
Investigação
A Polícia Federal cumpriu 11 mandados de busca e apreensão nas cidades de Teresina, Picos e Brasília, bem como o bloqueio de veículos e valores em contas e ativos financeiros, no valor aproximado de R$ 14 milhões. Denomina Peloponeso, a operação apura desvios de recursos públicos da área de saúde. A suspeita é de que os Centros Especializados de Reabilitação tenham desviado cerca de R$ 17 milhões em três anos, federais sem a contraprestação de serviços por parte das clínicas.
As investigações apontam que cada clínica teria desviado por mês cerca de R$ 345 mil, montante que poderia custear o tratamento de 400 mil pessoas. Em entrevista coletiva, o delegado Regional de Combate ao Crime Organizado, Albert Paulo de Moraes, afirmou que as duas clínicas alvo da operação são cadastradas no SUS para atender pacientes de reabilitação física, visual, auditiva e mental. Os investigados teriam atuado para fechar o setor que oferecia o tratamento no Hospital Regional Justino Luz e canalizar os atendimentos para as clínicas investigadas.
Ainda de acordo com a Polícia Federal, há fortes indícios de desvios envolvendo montantes controlados pela Secretaria Municipal de Saúde de Picos, com saque em espécie nas agências bancárias em benefício de empresários. A suspeita é de que servidores públicos também estejam envolvidos no esquema.
Por: Nathalia Amaral, com informações de Bruna Raquel
O DIa