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Guerreiro: a história do cadeirante que mora embaixo de uma árvore na zona rural de Picos

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Por Raí Junior

A localidade Chapada do Mocambo fica a cerca de 10 quilômetros do Centro urbano de Picos. Um lugar pacato e calmo, de paisagem seca e estradas de terra avermelhadas. Um cenário comum na semiárido piauiense. Foi lá onde encontramos uma história que a princípio pode parecer inusitada, mas na verdade é inspiradora e ao mesmo tempo muito comovente. Nesta localidade encontramos Reginaldo João Nogueira, de 36 anos, ou Naldo como é mais conhecido, ou até mesmo Sonhim, Budegudo, em fim, e outros tantos apelidos que o nosso personagem é conhecido.

Naldo, (o nome que mais gosta) é uma pessoa de alto astral, que parece está de bem com vida o tempo todo, apesar das dificuldades que enfrenta atualmente. Cadeirante há três anos, depois de ter sido vítima de um assalto em São Paulo e ser atingido com um tiro certeiro na medula óssea, Naldo mora atualmente embaixo de uma árvore cercada por lonas. E luta para conseguir a aposentadoria e sonha em passar por um especialista para saber de suas condições, como melhorar seus movimentos e a possibilidade de voltar a andar.

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Nos recebeu com uma alegria sem igual deitado em uma cama improvisada no pequeno espaço de pouco mais de dois metros quadrados, cercado por lonas, embaixo de uma árvore de pouca sombra. Pediu ajuda para sentar em sua cadeira de rodas e ali começou a contar a sua história de vida.

Reginaldo João Nogueira nasceu no dia 13 de janeiro de 1979 e viveu a infância, adolescência e parte da juventude na Chapada do Mocambo, onde estudou até a sexta-série do ensino fundamental. Jovem cheio de sonhos, decidiu ir para São Paulo em busca de realiza-los no ano de 1998, então com 19 anos. Retornou ao Piauí no ano seguindo e em 2001 decidiu se mudar de vez para capital Paulista em busca de emprego. Trabalhou como ajudante de pedreiro, pintor e outras funções na área de serviços gerais e assim conseguia levar avida.

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Morando há 12 anos em São Paulo, alegre e comunicativo, já tinha vários amigos que o convidaram para participar de uma festa em uma churrascaria na periferia paulista em uma noite de sábado na data de 19 de maio de 2013. Aquele dia a sua vida mudaria para sempre. Naldo saiu de casa por volta de meia noite, quando sofreu uma tentativa de assalto e acabou levando um tiro nas costas. Os assaltantes fugiram deixando-o caído no chão sangrando. Ainda consciente, Naldo percebeu que não senti mais as pernas. Pessoas que presenciara a ação logo chamaram o SAMU que não demorou a chegar. Em menos de 20 minutos já estava no hospital, onde passou por cirurgia e dias depois foi informado que ficaria paraplégico.

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Pouco depois do incidente resolveu retornar as suas origens. Chegando no Piauí ficou na casa de parentes, mas não sentia bem. “Não gosto de sentir que estou incomodando sabe”, disse. Então tomou uma decisão que pegou todo mundo de surpresa. Decidiu que queria morar sozinho, e tendo onde e nem recursos para fazer uma casa, foi morar embaixo de uma árvore e mora lá deste então. Para sobreviver conta com ajuda de amigos e familiares, que contribui com sua higiene pessoa, alimentação e outras necessidades. “Embora eu precisa de auxílio as vezes, aqui eu me sinto mais livre sabe?” desabafou.

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Durante a entrevista a voz altissonante perdeu um pouco o volume ao falar de seus grandes sonhos. Um deles é conseguir a aposentadoria que já vem lutando há três anos. O seu segundo e maior objetivo é passar por uma avaliação com um especialista para saber de suas possibilidades de voltar a andar ou se locomover melhor. “Todos os procedimentos depois do meu acidente foram feitos em hospitais públicos. Não me passaram todas as informações sobre o meu caso. Não sei no que posso melhor na questão dos meus movimentos. Ou até mesmo se posso voltar a andar quem sabe. Só queria passar por um especialista para obter essas informações. E tenho fé que vou conseguir”, disse emocionado.

Enquanto não consegue realizar seus grandes objetivos Reginaldo continua morando em sua casa da árvore, contando com a solidariedade de amigos e familiares na localidade chamada de Pirco dos Nogueiras na Chapada do Mucambo.

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