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A Síndrome da Letícia X Apicultor: mulheres contam se traição pode ser perdoada

Será se vale a pena perdoar uma traição? Onde fica o amor próprio? É possível amor próprio e perdão andarem juntos?

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A traição é algo que todos escutam falar desde que nascem. São diversos os relatos de casais que se desfazem pela ação, mas muitos outros, acreditando no amor, dão uma nova chance – até mais de uma – para o parceiro, na esperança de que haja fidelidade dali por diante.

O Dia dos Namorados chegou e, com as redes sociais, muitas são os memes voltados para pessoas que são traídas por seus parceiros ou traem, tais como: “Se eu enviar um print, vários relacionamentos acabam”, “Hoje vai ser igual trenó de Papai Noel: um monte de animais com chifres carregando presentinhos” ou “E fulano namora? Ontem mesmo me mandou mensagem!”.

Na última semana, um fenômeno inusitado chocou a sociedade picoense – vamos chamá-lo de “Síndrome da Letícia” – e, em questão de horas, invadiu todos os sites de “fofoca” do país: um homem, vestido de apicultor, pediu perdão à sua suposta companheira, pelas traições contra ela. Com carro de som, buquê e balões, queria ele uma nova chance.

Com o centro lotado de pessoas, várias filmagens espalharam-se instantaneamente pelas redes sociais para falar sobre o amor e perdão. Mas outros temas relacionados à ação foram levantados por muitos, como: Por que a mulher traída precisa ser exposta e ainda perdoar? Vale a pena perdoar?

O Portal RiachãoNet conversou com algumas mulheres que foram traídas e elas deram seu ponto de vista sobre os questionamentos. Enquanto umas apoiam uma segunda chance, outras acreditam que não vale a pena. Para manter a integridade moral das mesmas, serão citadas apenas iniciais de seus nomes.

D.C., 27 anos, foi traída com alguns anos de namoro. Segundo ela, descobrir o que estava lhe acontecendo, tirou seu chão. Terminou o namoro, mas, meses depois, após infindáveis promessas de mudança, ela decidiu dar uma nova chance.

Questionada se perdoar é mais fácil para a mulher, ela disse acredita que sim, pela cultura machista na qual a sociedade foi criada, mas ressaltou que não daria uma nova chance, caso haja reincidência.

“Acredito que é mais fácil para a mulher perdoar, porque nossa sociedade machista nos traz a ideia de que é da natureza do homem trair. Então, muitas têm esse pensamento formado e acabam mantendo a relação. Mas eu, sabendo que meu namorado quebrou a confiança que dei novamente a ele, não o perdoaria, principalmente se já fôssemos casados, porque são anos de um relacionamento para depois de casados descobrir ‘que não ama mais’, pretexto muito utilizado por quem trai”, disse ela.

Ela destacou que a mulher, já vulnerável pela exposição da traição, ainda sofre muito com o julgamento dos outros, especialmente quando decide reatar o relacionamento. Frisou ainda que, ao perdoar, o namoro teve muitas mudanças que foram benéficas.

“Lembro que quando perdoei, fui muito criticada por todos que conheciam a situação. Eu já sofria pelo caso, e passei a sofrer muito mais pelos dedos apontados a mim. Acredito que, por isso, eu não daria uma nova chance, porque é muito sofrimento. Mas perdoar, após alguns meses, foi um ato que me fez bem. Amadureci com a situação, aprendi a me amar, e isso trouxe muita evolução para meu relacionamento que melhorou em muitos aspectos. O perdão sempre traz benefícios para quem o libera. Quebra as correntes de mágoa e rancor que nos prendem”, pontuou.

Hoje casada, A.S., 28 anos, relatou que no início do namoro foi traída, mas que resolveu, também após alguns meses, perdoar seu companheiro, com quem hoje tem sua família. Ela declarou que retornou porque, além do sentimento que tinha pelo parceiro, conseguiu delimitar muitas exigências que são cumpridas até os dias atuais, há quase dez anos.

“Não é fácil descobrir uma traição. Você fica impotente. No meu caso, como sou bem reservada, não houve exposição. Nem minha família nunca ficou sabendo. Quando soube, terminei de imediato, mesmo que o amasse muito. Mas eu precisava mostrar para ele que tenho meu valor, que se ele não sabia valorizar, tinha quem soubesse. Por muitos meses ele ficou atrás de mim, querendo que eu reconsiderasse, mas ‘dei um molho’ bem dado nele. Era fria, mesmo aquilo me matando. Mas, após muito insistência, conversamos e voltamos. Mas essa volta foi delimitada com muitas exigências minhas. Ele já quis casar logo. Aceitei. Mas hoje, quase uma década depois, cada cláusula daquelas exigências são seguidas à risca, porque antes o amor próprio do que pelo outro”, declarou.

A.S. disse ainda que evita pensar no que passou, pois perdão é isso: esquecer e seguir.

“Me dá até algo por dentro quando lembro, mas a decisão de perdoar foi minha. Nosso relacionamento mudou, para melhor, em muitos aspectos. Há coisas hoje que eu não preciso nem pedir que ele não faça, porque desde aquele tempo que ele decidiu mudar. Então por que ficar remoendo? Perdoei e a gente seguiu. Uma nova infidelidade eu não tolero, mas a gente vem seguindo bem desde que decidi dar uma nova chance”, frisou.

Com um casamento aparentemente estável, J.S., 27 anos, descobriu que, próximo ao 10° aniversário de união, seu ex-companheiro mantinha uma vida dupla. Ao descobrir, sua ação foi uma só: separação. Segundo ela, não vale a pena continuar se doando para alguém – em caso de perdão – que não teve fidelidade e respeito com quem conviveu por vários anos.

“Quando descobri, os sentimentos que tive foram de angústia, desespero, insuficiência. A gente fica procurando culpa em si pelo fato da traição ter acontecido, quando na verdade não somos culpadas em nada. Hoje, entendendo tudo o que passei, sei que traição é uma atitude abusiva de quem pratica e tem a ver com o caráter de quem praticou o ato de trair. No tempo que descobri, eu não perdoei, isso é claro para mim. Porque quando se perdoa, a gente lembra sem doer, mas continuei a vida ao lado dele, tentando me enganar de que ele iria mudar, de que foi um erro, talvez pela minha dependência emocional em relação a ele, mas isso não durou muito tempo. O fim veio. E foi minha melhor escolha. Hoje sinto uma paz que já não sentia há muito tempo enquanto estava casada”, relatou.

Ela frisou que ainda não consegue perdoar porque há diversas formas de se evitar uma traição por parte de quem vai cometer o ato de infidelidade. “Se não há sentimento, deve haver responsabilidade afetiva, e isso não é reciprocidade, mas, sim, sinceridade. As pessoas devem aprender a cultivar no outro apenas aquilo que irão regar”.

A psicóloga Rafaella Mendonça explanou que o perdão por parte da mulher traída é uma cultura que foi plantada há centenas de anos, onde não havia espaço para o feminismo, e o sexo feminino tinha que aceitar tudo o que lhe acontecesse, principalmente se a mulher fosse casada.

Rafaella Mendonça, psicóloga

“Uma das vertentes que apontam para uma maior facilidade da mulher perdoar é por uma questão instintiva genética. Como assim? Para o homem, se uma mulher trai, ela corre o risco grande de engravidar, o que para ele fere sua moral em ter que criar filho de outro homem, isso segundo uma pesquisa de um Professor Doutor da USP. Outra vertente de uma pesquisa na Espanha é a de que as mulheres conseguem perdoar mais porque possuem um grau de empatia maior, o que facilita no perdão. A mulher, enquanto esposa, dona de casa, é outro fator que pesa. As pessoas confundem muito submissão com subserviência, em achar que a mulher tem que simplesmente fechar os olhos para tudo. Isso era bem mais comum lá atrás, mas ainda existe, porque é uma cultura que foi trazida ao longo dos anos, mas que vem sendo quebrada pelas próprias mulheres, que hoje têm voz e vez na sociedade”, explicou.

Rafaella Mendonça destacou que a traição quebra a confiança de quem foi prejudicado por ela e isso demonstra, acima de tudo, falta de respeito para com o próximo. Contudo, ela declarou que é preciso que haja perdão, pois isso liberta a quem foi afetado, e não ao causador da infidelidade.

“Olhando para a questão do perdão, independente de quem perdoe, ele sempre beneficia mais a quem foi traído, isso porque a pessoa abre mão de se libertar das emoções e sentimentos desagradáveis que não são bons de serem alimentados por nós, como mágoa, ódio e rancor. Mas quero frisar que perdão não é aval para uma nova traição, até porque quem perdoou tem o direito de, mesmo perdoando, não querer prosseguir com o relacionamento”, concluiu.

Imagens: ilustrativas e reprodução de arquivo pessoal

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