Ciro Nogueira desiste de eleição no PI e pode coordenar “transição” federal
O ministro da Casa Civil teria considerado um erro estratégico imenso o recrudescimento da postura antivacina do presidente Jair Bolsonaro.
Já em recesso de fim de ano, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é também senador pelo Piauí e presidente nacional do Progressistas (PP), aproveitou para analisar dados e pesquisas que havia encomendado e tomou a decisão de seguir até o fim do atual governo na pasta para a qual foi nomeado por Jair Bolsonaro em julho deste ano a fim de lubrificar acertos políticos no Congresso e consolidar a relação com o “Centrão”.
“Pensar numa candidatura no Piauí só faria sentido se fosse dentro de um projeto para segurar a eleição do governador Wellington Dias (PT) para o Senado”, disse ele a Bolsonaro ao expor os motivos que fundamentaram o caminho que escolheu. “Mas, ninguém conseguirá barrar a eleição do Wellington. Serei mais útil no ministério”.
Em seu quarto mandato à frente do Governo do Piauí, o petista Dias, que é pré-candidato a senador, aparece na liderança nas pesquisas de intenção de voto.
Ciro continua no Governo Bolsonaro em 2022 (Foto: Divulgação)
O grupo político de Ciro Nogueira, que tinha aliança com Dias até o início das campanhas municipais de 2020, quando os dois romperam, deverá apoiar a candidatura do ex-prefeito de Teresina Sílvio Mendes (PSDB) ao governo estadual. Deputada federal, Iracema Portella (PP), aliada de Nogueira, com quem foi casada até 2020, corre por fora na disputa pela indicação à candidatura de uma aliança PP-PSDB no Piauí. Contudo, a tendência é o “Progressistas” apoiar Meira e definir outro nome para disputar olimpicamente o Senado com Dias. “Disputar olimpicamente” significa marcar posição na urna, pois se sabe que a derrota é o resultado mais provável dada a solidez da candidatura do adversário.
Transição em 2022 e reconexão com Lula
A um amigo com quem conversou, já durante suas breves férias, e para quem revelou o projeto de seguir na Casa Civil, Ciro Nogueira disse considerar um erro estratégico imenso o recrudescimento da postura antivacina do presidente Jair Bolsonaro. Ela encontra eco em outros setores do governo federal – o Ministério da Educação divulgou portaria nesta sexta-feira, 30/12, proibindo instituições federais de ensino de cobrarem passaporte da vacina dos alunos e o Ministério da Saúde vem retardando o início da vacinação contra o vírus Covid-19 de crianças entre 5 e 11 anos, apesar de manifestação favorável à vacina infantil feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Ciro apoiou Lula em 2018 (Foto: Reprodução)
“Ficar contra a vacinação, contra vacinar crianças, arrebenta tudo de vez. Já não está fácil, o adversário é inteligente e bom de voto, e esse discurso antivacina, agora, é maluquice”, desabafou Nogueira. “Se o presidente sentar para pensar na campanha, no ano duro que teremos, começar a listar tudo o que fizemos, há chance. Mas, esse negócio da vacina, estraga qualquer estratégia, porque o povo quer vacina”.
O ministro da Casa Civil, na sua pretensão por seguir no ministério, vê-se como condutor dos rumos do governo ao longo do ano e artífice de uma eventual transição caso os fatos insistam em ocorrer no sentido da lógica atual: vitória do ex-presidente Lula (PT) no pleito presidencial, como indicam as pesquisas pré-eleitorais de diversos institutos feitas ao longo de 2021 (inclusive, com possibilidade de vitória em 1º turno). “Se Lula ganhar, e temos de trabalhar com esse fato, não será uma transição fácil. Vai ser preciso ter profissionais da política na transição”, chegou a dizer Ciro Nogueira ao amigo, com quem conversou no recesso.
O senador piauiense e ministro da Casa Civil é um profissional da política. Tem 52 anos de idade e no próximo ano celebrará 32 anos de mandatos eletivos numa série ininterrupta. Terá mais quatro anos de mandato no Senado, até 2026, quando pretende pausar a carreira política. Se conseguirá fazê-lo, o tempo dirá. Essa é a meta que traça olhando para 2022 no horizonte: seguir no Palácio, ser artífice de uma transição que se prenuncia dificílima entre o poder que se esvai e a nova conjugação de forças que surge e, depois, reorganizar os espaços que construiu como liderança política.
Por Luís Costa Pinto, do Brasil 247.